quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A ODISSÉIA DE ALEKSANDR SEVERSKY


Por: Sergio Ricardo Santana Cerqueira

O que aeronaves ícones da aviação militar mundial como o P-47 Thunderbolt e o F-105 Thunderchief possuem em comum? O fato de ambos serem produtos da Republic Aviation, empresa que se originou de uma personalidade cuja intensa vocação para a aeronáutica foi capaz de suplantar as limitações físicas impostas por uma tragédia.

ALEKSANDR Nikolaiévich Prokofiev de SEVERSKY nasceu em sete de junho de 1894, em Tiflis (hoje Geórgia), foi apresentado ao universo da aviação logo cedo, seu pai o nobre Nikolai, proprietário de uma aeronave. Foi admitido na Academia Naval Imperial Russa em 1908. A sua formatura com habilitação em engenharia aeronáutica em 1914, coincidiu com a deflagração da Primeira Guerra Mundial, quando ele inicialmente serviu a bordo de navios. Mas, a inclinação para o vôo falou mais alto, e à consequente transferência para a Aviação Naval da Frota do Mar Báltico no verão de 1915, o que acabou por transformar dramaticamente sua vida.

Durante uma surtida de ataque a um destróier alemão no Golfo de Riga, em 2 de julho daquele ano, sua aeronave foi atingida antes que pudesse lançar as bombas que trazia, ao colidir com o solo, os artefatos explodiram, ceifando a vida do seu artilheiro e provocando danos irreversíveis na sua perna direita, que teve de ser amputada cirurgicamente abaixo do joelho.

Foi realizado um grande esforço para continuar voando, com a adoção de uma “perna” de madeira. Seversky participaria de um show aéreo pouco após o acidente, provando na prática que continuava hábil para voar, mas este ato foi interpretado como ousada desobediência às ordens superiores para que permanecesse afastado dos aviões. O resultado disto foi à prisão, de onde só foi libertado em 1º de julho de 1916, e por interferência direta do Czar Nicolau II, cuja benevolência foi “compensada” três dias depois, pilotando um Grigorovich M-9, abateu um avião de reconhecimento alemão, sobre o mesmo lugar em que havia sido atingido menos de um ano antes.



No dia 13 do mês seguinte derrubou ainda a bordo do M-9, três hidroaviões, desta vez sobre o lago Angern. Em fevereiro de 1917 foi promovido a capitão comandante do Destacamento Naval de Caças, e pouco depois teve a sua perna natural fraturada quando colidiu com uma condução puxada por cavalos. No dia 10 de outubro daquele ano, voltava a abater aviões inimigos, “vitimando” outra aeronave de reconhecimento bi-place, mas agora nos comandos de um Nieuport 21. No dia 14 daquele mês teve seu caça atingido, e escapou de ser preso ou executado em território adversário, retornando em segurança para seu aeródromo. Ao fim do conflito totalizava 57 missões de combate e seis aeronaves inimigas abatidas, tornando-se o maior ás da Aviação Naval russa do período.






Em março de 1918, desembarcou nos EUA como assistente do adido naval russo, porem a revolução bolchevique tornou perigoso seu retorno à terra natal, desta situação surgiu à oportunidade de manifestar o seu gênio criativo, agora residindo em solo americano. Contribuiu para o surgimento e aperfeiçoamento das técnicas de reabastecimento aéreo em 1921, e do sistema de pontaria de bombardeio giroscopicamente estabilizado em 1923, ano em que fundou a Corporação Aeronáutica Seversky, especializada em peças e instrumentos para aviões.

Quatro anos depois conquistou a cidadania norte-americana, além do posto de major da reserva do, USAAC - United States Army Air Cops (Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos), embora sua companhia tivesse ido à falência com à quebra da bolsa de valores em 1929. Dois anos depois ela ressurgia ampliada, com o apoio de alguns amigos milionários, e com um novo nome; “Corporação de Aeronaves Seversky”, o primeiro dos quais, o SEV-3, anfíbio para três passageiros, estabeleceu em 15 de setembro de 1935 um recorde de velocidade para a sua classe que perdura até hoje: 388.7 km/h. Sem os flutuadores foi adotado com a designação BT-8, como treinador básico.

Este modelo foi logo substituído pelo AT-6 “Texan”, o projeto seguinte, o SEV-2XP, originalmente também um treinador com trem de pouso fixo, “perdeu” um dos assentos e ganhou trem retrátil, tornando-se o SEV-1XP. Ostentando a designação militar P-35. Ganhando a concorrência para equipar o USAAC com uma aeronave de caça monoplace, sendo fornecido a cinco Grupos de Caça a partir de 1937. O pouco talento administrativo de Seversky e os prejuízos financeiros que a empresa amargava mais uma vez, fez os responsáveis pela sua área econômica cortarem as verbas para novos projetos, perdendo a presidência em setembro de 1939. Sua reação foi embarcar para a Europa numa viagem de negócios, no dia 13 do mês seguinte a empresa que fundara mudou de nome, tornando-se a; Republic Aviation Corporation.

Seversky condensou o maior desafio apresentado que observara no velho continente em um livro reputado como o grande referencial teórico da aviação militar: Victory Through Air Power (A Vitória Através do Poder Aéreo). Publicado em 1942, e após os Estados Unidos terem entrado na II Guerra Mundial, o escrito demonstrava o despreparo da nação para enfrentar ameaças militares distantes, e que já haviam assimilado a revolução provocada pelo avião na ciência militar moderna, com estes pensamentos incentivou a evolução doutrinária e industrial da aeronave militar frente aos meios tradicionais de combate.

Estes pensamentos resultaram num filme produzido por Walt Disney e indicado ao Oscar, “Victory Through Air Power” lançou as bases para o estabelecimento do Comando Aéreo Estratégico da USAF em 1946, arma para qual foi destacado como consultor. Aleksandr Seversky faleceu aos 80 anos, em 24 de agosto de 1974, em um dos leitos do New York Memorial Hospital, devido a uma crise respiratória. Detentor de muitas honrarias e variadas experiências, deu sentido a uma de suas frases:

“Descobri cedo que a coisa mais difícil de superar não é uma incapacidade física, mas a condição mental a que ela induz. O mundo, eu percebi, tem um modo de considerar um homem em grande parte como ele considera a si mesmo. Se ele permite que sua perda torne-se empecilho ou transforme-o em alguém digno de compaixão, é isso que ele obterá dos outros. Mas se ele respeita a si próprio, o respeito dos outros ao seu redor virá facilmente”

Aleksandr Seversky: 1894 – 1974

4 comentários:

  1. Realmente o Sérgio esta de parabéns pelo bom trabalho de pesquisa, e fica aberto aqui o espaço para quem quiser mandar seus artigos e fotos, basta enviar para o e-mail da pagina.

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  2. Muito legal esta seu blog!! Parabens.

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  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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